Facebook celebra a cultura hacker
Empresa promove maratonas de programação para criar novos produtos
A palavra hacker costuma ter um significado negativo, normalmente relacionada a criminosos digitais. Mas, na comunidade de programadores, é usada para designar indivíduos brilhantes, que conseguem modificar sistemas ou equipamentos. E que são capazes de resolver problemas complexos com sua capacidade técnica.
O Facebook tem orgulho de sua cultura hacker, e costuma promover, periodicamente, hackathons, maratonas de programação que viram a noite. A única regra para os programadores é trabalhar num projeto que não está relacionado às suas atividades do dia a dia.
Com isso, a maior rede social do mundo consegue manter a equipe motivada, além de incentivar a criatividade e cultivar a agilidade que normalmente caracteriza companhias iniciantes.
A adoção das funcionalidades desenvolvidas durante as hackathons são decididas rapidamente, em reuniões em que todos podem participar. Cada equipe tem alguns minutos para apresentar o seu projeto. Aqueles que têm uma recepção mais calorosa dos colegas são integrados ao produto.
Os hackathons são um bom exemplo da cultura que diferencia as empresas instaladas no Vale do Silício. Na semana passada, esta série de reportagens mostrou alguns motivos que fazem com que sejam criadas na região da Baía de San Francisco, na Califórnia, companhias que mudam o mundo. Na semana que vem, uma reportagem sobre empresas de energia renovável no Vale do Silício, e uma entrevista com John O"Farrell, sócio da Andreessen Horowitz, fecham a série.
Quebrando tudo. Colados nas paredes do Facebook, estão cartazes que dizem: "Move fast and break things" (mova-se rápido e quebre coisas). Outra versão do lema é: "Move fast and be bold" (mova-se rápido e seja ousado). De certa forma, é o contrário do que se espera do ambiente organizado de uma grande empresa.
Com sua camiseta em que se lê a palavra "Hack", Pedram Keyani lidera a equipe responsável por manter a integridade (segurança) do site. Na empresa desde 2007, ele é responsável por organizar muitas das hackathons.
Em uma dessas jornadas de 24 horas de programação, Keyani desenvolveu uma aplicação chamada "Keg Presence" (presença do barril). Ela avisa aos funcionários do Facebook se o barril de chope que existe na sede da empresa, em Palo Alto, está vazio e também informa que tipo de chope está disponível no momento.
"Infelizmente, não foi integrado ao produto", brincou o programador. Entre as funcionalidades desenvolvidas nas hackathons, e que hoje fazem parte da rede social, estão o bate-papo e a integração com câmeras web.
"Os hackathons começaram antes de eu entrar no Facebook, praticamente desde o primeiro dia", disse o programador. "Quando a empresa era uma pequena startup, as pessoas estavam trabalhando e alguém dizia: "Vamos arranjar cerveja e comida chinesa e vamos "hackear" coisas, trabalhar em novas ideias e criar coisas novas."
Isso acabou se transformando numa tradição do Facebook. A cada período de quatro a oito semanas alguém promove uma hackathon. "Na minha segunda semana de empresa eu participei de uma hackhathon e adorei trabalhar em projetos paralelos legais durante toda a noite", afirmou Pedram. Em quatro anos, ele participou de 20 maratonas.
Normalmente, a hackathon começa às 20h e às 6h da manhã do dia seguinte os participantes tomam café da manhã e muitos vão para casa. Alguns, que não conseguem ficar à noite, retomam a maratona de programação pela manhã e continuam até as 20h. Os mais animados chegam a ficar mais de dez horas programando.
Tradição. Quando Mark Zuckerberg criou o Facemash, precursor do Facebook, em Harvard, no ano de 2003, foi numa espécie de hackathon. Ele passou a noite programando até criar o site em que as pessoas podiam votar em fotos de garotas que estudavam na universidade. Os primeiros programadores do Facebook também foram escolhidos por Zuckerberg numa espécie de hackathon. "Os hackathons fazem parte de nossa cultura desde os primeiros dias", explicou Keyani. "Muitas coisas legais saíram de uma hackathon, como o botão "Like"."
Depois de alguns dias, acontece o fórum de protótipos. "Cada um mostra o seu projeto por alguns minutos", disse Pedram. "Para os bons projetos, todo mundo começa a aplaudir, a estalar os dedos e a falar: "ship it! ship it!" (coloque em uso)." De cada hackathon, três ou quatro projetos se transformam em produtos, depois de duas semanas.
Rodrigo Schmidt foi o primeiro brasileiro contratado pelo Facebook, em 2008. Ele trabalha como engenheiro sênior de software na empresa, em Palo Alto. Foi durante uma hackathon que ele desenvolveu, com outro brasileiro, a integração do Facebook com o Skype. "O "hack" faz parte da cultura da empresa", explicou Schmidt. "A ideia de rapidamente construir um protótipo, identificar o potencial e trabalhar nele até criar o produto que você quer."